“As pessoas vão esquecer o que tu disseste, as pessoas vão esquecer o que tu fizeste, mas as pessoas nunca esquecerão como as fizeste sentir” (Maya Angelou).

 

Criei empatia com a questão dos refugiados desde que começou a ser debatida de forma fervorosa em Portugal, tanto nos media, como nas redes sociais. Sempre foi minha intenção fazer algo prático que ajudasse na resolução, em vez de ser mais um a desgastar-se nos constantes debates teóricos sobre o tema, no facebook.

O SPEAK é uma forma muito positiva de abordar a diversidade e o multiculturalismo. Acima de tudo, de abordar as diferenças. O convite é, simplesmente, “partilha o teu mundo”. Para mim, faz sentido! A filosofia e a metodologia do programa promovem a partilha de línguas e de culturas e procuram aproximar as pessoas, quebrar barreiras, construir pontes. Proporcionam a criação de laços entre os migrantes em geral e as comunidades locais em particular. Criação de laços entre as pessoas.

Quando surgiu a oportunidade de dar um curso de português a cinco jovens oriundos do Afeganistão, o meu interesse foi imediato. Essa criação de laços parecia-me imprescindível para que pudessem ter uma integração eficaz. A problemática dos refugiados é muito sensível a todos, mas talvez seja ainda mais para pessoas com filhos, como eu.

“Pai é um homem comum dando o melhor de si para cumprir a função de Super Homem”

Sobre este tema, já me foram propostas várias reflexões:

E se fosse eu? Se, ao fugir da morte, soubesse que só podia levar uma mochila e nela só poderia colocar 5 coisas para levar comigo numa viagem para o outro lado do mundo, o que levaria? O que escolheria deixar para trás? Como gostaria de ser recebido onde quer que chegasse?

Quando temos dúvidas sobre questões relacionadas com os refugiados, talvez este seja um bom repto: Quero ou não fazer parte da construção de algo positivo? Como posso contribuir para uma situação ideal? Qual o mundo que eu pessoalmente estou a construir (com as minhas ações ou apenas com as minhas crenças)? 

Saint-Exupéry afirmava: “Na minha civilização, aquele que é diferente, não me empobrece; enriquece-me.” Esta é uma forma de encarar as diferenças que valoriza as partilhas. Ele defendia que não temos como prever o futuro, mas que temos de o permitir. No seu entender, isso faz parte do que é ser homem:

“Ser homem é ser responsável, é sentir que se colabora na construção do mundo”.

A desconfiança que sempre senti existir entre as pessoas com quem ia falando, estava relacionada com o desconhecimento e continua a haver trabalho a fazer para que as pessoas estejam mais informadas. No meu entender, estas pessoas que fogem da morte precisam de encontrar humanidade onde são acolhidas. Acredito que a sensibilidade deve estar sempre presente no relacionamento humano, e no caso específico dos refugiados é algo incontornável.

Enquanto muitos, pelo seu desconhecimento, pensam que é arriscado relacionarem-se, o que eu sinto é que o maior risco é não o fazer, é ser insensível, é segregar. Qualquer pessoa é mais feliz se se sentir integrado, se se sentir como parte de um todo, se sentir afeto em vez de medo, se sentir conforto em vez de repulsa, se se sentir querida, amada. Nelson Mandela dizia que “o amor é mais natural no coração do homem do que o seu oposto”. A nossa natureza é libertar a bondade que existe em nós, o contrário a isso é negar a nossa identidade natural.

O que eu senti depois desta experiência é que juntando coração, racionalidade e intenção positiva, é possível criar felicidade de uma forma muito simples e é possível ter impacto construtivo na vida das pessoas. Aprendi que quando olhamos para os outros, temos tendência imediata para valorizar as diferenças, mas é muito mais o que temos em comum. Foi muito gratificante perceber que, à medida que iam decorrendo as sessões, ia aumentando também a confiança, ainda que sentisse que eles não estavam ainda preparados para confiar no resto do mundo. 

At SPEAK
SPEAK friends

Foi surpreendente descobrir pratos como o Biryani, conhecer o Tabaski, ter a consciência que há profissões que existem em Portugal e que no Afeganistão não existem. Mas, para mim, o mais importante de tudo isso foram as partilhas genuínas que eles confiaram fazer. Partilha do que eles viveram, daquilo em que acreditam, do que eles são.

Foi perceber que apesar das experiências duras que tiveram depois de partir do Afeganistão e terem passado por países como o Paquistão, Irão, Turquia, e Grécia, estes jovens entre os 13 e os 18 anos conseguem ainda fazer sobreviver traços de criança que podem ser identificados em qualquer parte do mundo. Depois de terem deixado muita coisa para trás, continuam a transportar no coração os seus sonhos, na pele a sua fé e na sua cabeça a ambição.

Sinto-me grato pelo que aprendi do que é ser humano com eles e com a Teresa, que de forma tão dedicada e altruísta esteve comigo neste desafio.

 

Em parceria com o Alto Comissariado das Migrações (ACM), e com financiamento do Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI), o SPEAK está a apoiar a integração de migrantes e refugiados nos cursos de Português e eventos interculturais. No caso específico dos refugiados acolhidos em Portugal, para além da integração em cursos nas cidades SPEAK, têm sido ainda criados grupos específicos noutras áreas geográficas, com o apoio de voluntários locais capacitados com a metodologia SPEAK.

Author: Flávio Landim Gonçalves

Flávio is a buddy at SPEAK

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